quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Palavras

Gostoso ouvir que você sempre quis dizer o que disse, o que diz, o que jamais quero que pare de dizer, o que jamais quero parar de ouvir...

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Resposta a mais linda declaração de amor do mundo

Desculpe-me se emudeci naquele momento. Mas você me transportou a outro tempo de menos evidências e subterfúgios tão claros ao mesmo tempo. Na verdade vi você no passado e no presente me dizendo todas aquelas palavras e percebi o seu amor antigo, não empoeirado, mas polido. Então me senti tão pequenina ante você que é um gigante, porque a vida lhe agigantou e o deu para mim.
Agradecer seria lugar comum. Eu não vou agradecer, e você sabe que isso não significa que eu não seja grata. Vou continuar amando você. Segurando a sua mão, não porque você precise de resgate, mas para lhe dar o conforto consciente de alguém caminhando ao lado. Oferecendo meu ombro estreito, não que você necessite reclinar a cabeça, mas para lhe trazer a tranquilidade de saber que há suporte caso algo lhe pese. Oferecendo meu peito aberto, não que você não tenha peito suficiente, mas para lhe dar as chaves do descanso após qualquer enfrentamento necessário.
No tempo do sofrimento não havia nada claro para mim, como seu sentimento poderia ser? Cercada de terrores e temores e com um poder enrustido de livrar-me deles, lembro-me apenas dos meus olhos lubrificados e de certos desejos reprimidos e principalmente de uma raiva imensa por achar que não tinha tudo e além do que eu gostaria.
E, de repente, vejo-me rindo porque as evidências estavam em mim, e a tentativa inútil de esconder-me em subterfúgios estúpidos (esconder-me de mim). Agora me pergunto quem teria notado, porque o meu olhar ainda é o mesmo. E único para você, assim como o sorriso e a movimentação corporal sentada naquela cadeira, não incômoda, mas com desejo de incomodar, confesso.
Talvez eu tenha provocado com todas as artimanhas que penso não saber usar, quem sabe mexido com o coração de um leão. Mas que bom que despertei este leão ao meio-dia porque posso ver as coisas mais lindas desse intrigante animal o qual quero cavalgar e acariciar sem medo. E quero que ele ruja, contanto que eu o dome. Não quero prendê-lo, quero desbravar com ele a floresta da vida, porque sei que ele conhece o caminho.  

sábado, 16 de julho de 2011

Escolhas

Eu posso escolher. Não estou falando da escolha certa ou da outra que condena. Estou dizendo que posso escolher e simplesmente isso. Nem preciso declarar minha opção, apenas ter ciência da liberdade. No momento selecionei entre a lista de todas as coisas, ser feliz, porque ser feliz é uma escolha.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Para Cláudia Carnevskis


A lembrança mais forte que tenho de você é a do chá mate. Aqueles colchões, tão atrativos para mim depois de um dia todo de clínica e remédios... Eu nem sabia como havia sido o seu dia, egoísmo meu. Mas você perdia o seu tempo e fazia um chá mate improvisado no fogão da ocupação da faculdade. Quentinho, doce, delicioso. Não sei se já lhe disse, mas o seu chá mate foi o único de toda a minha vida, porque era mais que chá, era carinho. Eu nem gosto de chá, e nego quando alguém me oferece. Mas tenho saudade do seu e admiração pelo seu gesto...
Obrigada.

Erros exatos

Não, eu não sou a melhor pessoa do mundo. Pelo contrário, estou há milhas disso. Cometo erros triviais, imensuráveis, incorrigíveis, até banais. Mas vou pedir perdão, a não ser a mim mesma por ter passado a vida acreditando que errar é subumano. Quem conseguiria sobreviver a carga de fazer o certo eternamente para merecer um doce, um abraço, um amigo, um amor, o céu?
Agora sei que posso errar, e vou errar, estejam cientes. E posso não no sentido de possibilidade, mas no de permissão inviolável. Sim, porque me amarão, assim toda torta e sem jeito. Não é que eu não queira acertar, nem que não pratique acertos, mas cansei das tolices de amargamente querer ser e  fazer o melhor para ter e acabar me ferindo. Quero e devo ser o melhor pra mim, porque apenas desta forma o serei para quem quer que seja.
Ninguém sabe e nem jamais soube dos meus intentos. Ninguém tem culpa das loucuras dolorosas e feridas insanas que me fiz. Agora sinto uma alegria louca, uma vontade de carregar uma parte do mundo nos braços, mas sei que não suporto. E não é para ter, mas para agradecer as ofertas ocultas de vida. Aos poucos também ofereço carinho, mas também nego. Menina má? É, vez por outra serei, não para sair da mesmice do correto, mas para não esquecer que vida ainda dói e vai doer. Saber dizer não e sim no momento exato. E errar, se for o caso, errar de novo.
Continuarei errando de maneira graciosa a ponto de apaixonarem-se pelos meus tropeço, como tem acontecido. Tenho me deliciado em errar. Errar é sublime. Acertos todos tentam o tempo inteiro, matam-se por ele e matam por ele. Mas eu sei que vou acertar por tanto errar e cair e rir de tudo isso. A vida abre mil estradas para mim e posso estar no caminho errado, mas jamais direi que não vi flores, que não amei, que não sofri por um sentimento nobre, que não aprendi com algo torpe vindo de mim e que não ofertei tudo o que poderia, por pensar apenas no acerto. A vida vai, passa e acaba. Dos erros ficam as cicatrizes e as lembranças dos doces presentes que apenas quem errou pode saborear, mesmo aquele chantilly regado a terra, logo após o tombo.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Pedaços

Eu não sei em quantos pedaços o seu coração se partiu. Mas, por favor, não me mostre os cacos dizendo a todo instante que fui eu e exigindo (sim, de certa forma, exigindo) que eu os cole. Eu não atirei uma pedra no seu coração de vitral belo e puro.
É que meu coração já estava partido há tanto tempo que percebi que poderia machucar você com os meus cacos. E já estava machucando a cada resposta ríspida, suspirar cansado, sorriso inexistente, pulsar dolorido do peito, quase ausência de respiração: tristeza.
Agora, um misto de sei lá o quê e nem por quê sente culpa. Culpa por esses pedaços todos de inclinações perdidas, risos tão diferentes, necessidades sufocadas... Mágoa que virou ressentimento. É por isso que estou infeliz.

Leve

Que a vida me leve leve e releve todos os apesares e pesares dos pesos que levo.
Que a poeira do vento encontre minhas costas nuas e que o tempo escorregue das mãos e vá e dê um tempo antes de voltar enquanto as estrelas brilham, os abraços abraçam e os beijos beijam.
Principalmente, que os beijos beijem.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Entre o medo e o desejo

Eu tenho medo do escuro, mas também não quero cortinas abertas porque a luz pelas frestas parece ferir meus olhos. Mas saio pela noite, percorro madrugadas desejando holofotes e letras em neon e esperando o sol nascer. E quando sinto o primeiro calor da estrela próxima, dou-lhe as costas para esconder novamente o rosto, o corpo, a alma. Eu sei que a luz não me cega, mas é difícil habituar-me a ela. Tem que ser devagar... Um pouquinho num dia, outro tanto no outro, abrindo um olho de cada vez, espremendo as pálpebras como quem sente dor. Mas tenho saído para assistir todos os pores de sol e ganho de presente nuances amarelas, laranjas, vermelhas. Cores alegres que me alegram. Cores que me sorriem. E ainda tenho medo. Talvez seja porque vivi num tempo nublado e cinza, sem a possibilidade de escolher os sabores da luz, que são tantos. Bebi uma vida de escuro viciante, mas cada nascer do sol me desintoxica um pouco. A felicidade assusta e chama como se fosse chama. E eu quero esse calor. Já não ouço quem diga que o fogo queima. Quando definitivamente abrir os olhos, mergulho no fogo... Onde quer que ele esteja...

quarta-feira, 8 de junho de 2011

terça-feira, 31 de maio de 2011

Sintonia

Não vivo muitos momentos solenes, ainda mais um celebrado num quase silêncio em meio a angústia fina de um duro final de dia. Na cama, acompanhada daquela tristeza que dá nó e sufocando um choro no travesseiro desejei alguém. Fiz minha prece, mas não pensei em seres celestiais, queria alguém de carne e osso. Lembranças de companhias vinham, e bem a dele que enchia o quarto e preenchia o coração. Talvez pra dar nome a dor, pra chamar aquilo de saudade, ou talvez porque eu simplesmente o ame e o queira por perto. Então, como de costume, enxuguei as lágrimas, acendi a lâmpada e apanhei o caderninho e a caneta da cabeceira da cama. Escrevi exatamente estas palavras:

Tente arrumar algum tempo pra mim, e como deve ser difícil. E sei que você sabe que eu disse algum, e não todo tempo. Mas paixões comprometem e você está certo em comprometer-se. Entretanto queria tanto alguém para dividir meu lado bom, porque não tenho coragem de lhe expor o meu terror. E sinto sua falta. E ao mesmo tempo quero que você voe, meu bem. Mas vem de vez em quando compartilhar seu infinito.

Apaguei a luz e deitei novamente, com os olhos mais calmos e a mente menos marejada. Foi quando a porta abriu com um:
Acordada? Posso entrar?
Entre querido, e pode acender a luz...
Ele apenas entrou, deitou do meu lado e segurou a minha mão. Alguns segundos quietos e depois despejo de palavras leves que aliviam corações pesados (de ambos) e ele dormiu ali, ao meu lado. E eu emocionada e assustada por uma realização quase banal e tão rara. Mas, não sozinha. Nunca sozinha, ele sabe. Eu é que insisto na dúvida.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Estúpido apaixonado

Conheci um estúpido que se diz apaixonado. Pode ser que realmente esteja porque a paixão em si, muitas vezes, aparece como idiotia crônica. Há quem diga que é necessário ser um pouco estúpido, ter certa falta de inteligência, uma certa falta de juízo. Mas este é totalmente estúpido, e não sei como consegue reunir tantos sinônimos desprazeirosos. Possui uma absoluta falta da habilidade social do lidar com o próximo, e ao mesmo tempo é desprovido do cuidado de não sair da razão para não ser incortez, descivilizado, grosseiro e bruto - inclusive com o objeto amado.  E é engraçado observar suas tentativas insólitas e grotescas de conquista. Não é possível ao menos considerá-lo ingênuo, brincalhão ou distraído quando por vezes machuca a pele, a carne e o coração de quem passa pelo seu caminho, porque ele é simplesmente como eu diria, um estúpido com maestria. Por isso, embora sua expressão corporal consiga alcançar certa teatralidade amorosa, parece que não ama. Insiste na conquista utilizando-se de toda sua refinada impolidez, abordando com uma impressionante descortezia - que dirá o resto - com sua alma ausente de hurbanidade e civilidade, não sei se por dedicação ou traço genético ou desvio de personalidade. Mas, talvez ame, por que não? É apenas estúpido e deve haver quem goste de uma indelizadeza, de um despropósito e de uma mágoa (porque haja coração). Quanto a mim, estupidez me desapaixona, já basta a imperfeita natureza humana. Esse acúmulo de qualidades não me cabem na traqueia.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Nada sutil

Na verdade minha casa, meu quarto, meu coração são meus, de ninguém mais. Eu fingi que doei, que aluguei, que me dei sem fingir. Eu quero ser invadida. Vai, arromba essa porta. Estou esperando há muito que você entre e me roube sorrateiramente. Toda a violência é permitida, não me deixe aqui fechada esperando mais uma gentileza. Não me deixe aqui fechada, mas não bata na porta, não peça licença, não pergunte se pode. Me arranque, me agarre, me beije. Eu sei que haverá paixão e é essa paixão que eu quero. ignore meu rosto de espanto, meu corpo acuado e a tentativa de fuga se houver. Esqueça minha primeira reação e simplesmente habite em mim

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Pare de magoar

Para que magoar tanto e tanta gente ao mesmo tempo? Eu amo você por todas as lembranças mais dolorosas da minha vida. E tenho pena e talvez seja por isso que eu suporte todas as suas agulhas e facas e canivetes previamente colocados em lugares estratégicos. Suportar quando você machuca lhe dá suporte para sobreviver. Mas, você não é vivo já faz tanto tempo. Sim, eu choro e choro e choro esse chorinho imbecíl - meu escape natural para não magoar tanto - porque sou de carne e osso. Eu odeio você com todo amor do mundo. Você sintetiza o funesto, você anuncia o funesto, tem o odor do funesto. E se você o trouxer, a culpa será de todos nós? Eu não suporto, minha mente não suporta, meu corpo não suporta mais sentir culpa por você. Não estrague o resto dessa droga toda. E enquanto isso você pensa que é o melhor com essa sobrevida miseravelsinha. Tudo bem, apanhe todo o seu glamour, inteligência, sensatez, bom gosto, decência e deixe-me decair, já não falo por ninguém. Nunca nos abraçamos? Nunca foi abraçado? Você não foi pego no colo? Não caminhamos juntos, a três, no parque de diversões? Nem corremos na chuva? E as bexigas? As fantasias que vinham em pacotes? O que era aquela outra brincadeira apenas sua e dele? Seria melhor se fosse pior? Eu lembro. Recupere o belo, o bom, o agradável. O resto não era para ser assim, eu sei, mas tenho recebido tantos abraços e tenho pena de você quando olha para mim com toda essa superioridade porque podia estar sendo abraçado. Quando choro, não é por fraqueza, mas por desejo de lhe sorrir - e se isso for fraqueza, choro por fraqueza, toda fraqueza do mundo. Por que você insiste em lembrar o que ninguém queria ter vivido. Ninguém queria. Todo mundo sofreu. Então pare de magoar. Deus, você precisa de uma camisa de forças e dormir profundamente e ir para bem longe no seu pensamento. Estou cansada de entender e compreender o que passou com você e deixar acontecer por isso e ficar assim, despedaçada.Pare, pare, pare, mil vezes, não faça mais isso. Eu preciso sair desse mortuário.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Dane-se

Abandonei o querer você e até o desejo de querer, a maior delícia de todos os quereres, porque agora, meu desejo mais profundo e sincero é que você se dane. Talvez isso dure até amanhã, não o desejo insalubre de não querer, mas o desejo de que você vá para o inferno. Também, não há maldade em mim que lhe queira morto e ardendo no fogo eterno, desejo apenas um inferno metafórico de sofrimento. Desejo que você se dane, é isso.
Ou talvez essa falta dure até quando eu não puder mais olhar nos seus olhos cegos com repugnância, olhos que representam o tempo inteiro um certo não querer sem gosto que você chama de paixão. Sua paixão tem menos gosto que a minha ausência, é o que demonstram abestalhados, buscando o que todos sabem e você finge que não. É por isso que eu quero que você se dane com seu tosco sofrimentozinho infantil.
E veja que lhe fiz melhor do que você é, como ator principal de uma tragédia presenciada por Dionísio nenhum. Mas, dane-se, porque não era para ser a catarse da minha vida, apenas uma história bem contada que nem precisava ter final – que dirá final feliz. Só queria uma paixãozinha leve e fresca e divertida porque a vida tem que ser assim, puro riso e não este ato sofrível que você representa.
Não vou ditar a cartilha da vida, ensinar um caminho do novo, mostrar expectativas, esperar que você desperte deste sono inútil. Cansei de você e estou indisponível no momento. Ah! Sim, disponibilíssima para ver você sofrer. Você vai acabar sabendo de mim, sem querer. Mas dai vai ser tarde, vai ter que bater na porta que eu fechei. E sei que não vai bater na minha porta - pois se não é o covarde mais estúpido que já conheci - porque ali estará a placa em letras garrafais com um recado pra você: Vá se danar.

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Exilada do seu Reino

Mulher imponente de olhos enigmáticos. Sinto-me quase como Capitu e seus olhos de cigana oblíqua e dissimulada. Sempre quis ter os olhos de ressaca de Capitu, mas olhares não se fabricam... Entretanto lá vêm eles a dizer que meus olhos são misteriosos e que sou majestosa. Eu quando realmente quero olhar como mar bravio que afoga, transformo-me numa água mansa, quase a fechar os olhos... Não sou impiedosa, preciso de piedade.
Sim, alguém iria ignorar-me, mas por que você? Tanta frieza e ausência de gestos com qualquer sentimento que seja. Não consegue ver um quê sequer de beleza em mim que possa ser apreciado? Você reduz meu olhar, desejado por tantos, a uma insignificância. Enquanto espero ansiosamente por sua presença, percebo que sou obrigação aos seus olhos quando me vêem. Você parece respirar fundo por ser obrigado a me olhar. E nem me olha, como se a sedução intrínseca a mim, tão disputada, para você fosse lixo.
Você tem a sua vida e eu gostaria de deixá-lo viver em paz. Mas eu quero tirar a sua paz – e tirar as arestas restantes – dando-lhe paixão. É, paixão mesmo. Estou cansada de inventar palavras para sentimentos. Eu tenho a minha vida também, mas gostaria de deixá-la para viver a sua, estar com você, por alguns instantes ouvir sua grave voz tão baixa e arrastada no meu ouvido. Sei construir momentos inesquecíveis. Será apenas um momento, não se esquive. Não sou exigente, há um mundo que me espera num tempo infinito e sei que posso tanto... Mas quero você, antes de mais nada.
Desejo coisas tolas como roçar meu rosto no seu peito. Peito tocado por outras até então, realizado pelo seu desejo. Mas você me cumprimenta com os dedos, mal aperta minha mão, como se não me conhecesse, ou como se preferisse não me conhecer. Deve estar apaixonado, vivendo um romance, amando desesperadamente outra mulher, enquanto eu espero o que você não quer que eu queira. Ou pior, o que tanto faz... Ah, isso dói, menino, e como.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pirei em você

Parei na tua, rapazinho. Não deu. Teu sorriso amarrado me seduziu e eu não sei o que faço. Vidrei na tua, irmãozinho. Teu olhar que não me olha me abandona o corpo. Me olha com preguiça, lindo, mas olha. Eu tô louca porque é só na tua boca que eu penso, é só ela que eu quero - eu até olho pra outras tentando desejar. Que é que há nessa boca, me deixa saber, moleque? Faz assim, não. Tu tem um tudo que me aquece e me derruba sem encostar um dedo sequer no meu corpo. Mas me deixa te provar... Por que tu me faz pensar que teu olhar me chama, se a chama é só minha? Brinca assim comigo não. Eu piro só de te olhar... Por que tu não faz o resto? É com loucura mesmo, com toda loucura do mundo, que se dane o mundo. Depois tu vê o que faz, escolhe o que quer, quem quer, fica com todo o resto que te quer, mas antes me beija, me abraça, me faz feliz por um segundo acalmando isso que vibra de olhar pra ti. Depois, depois é depois. Eu nem quero saber. Te quero, e só.

domingo, 8 de maio de 2011

Onde você estava?

Onde ela estava? - fizeram a pergunta. Onde estava sua mãe? – tornaram a perguntar. A princípio doeu só de leve porque lembro de sua presença. Mas, depois de algum tempo perguntei chorando “onde você estava?” Sei que esteve em lugares ocultos, eu não a via enquanto me observava. Esteve também enquanto eu via, quando eu falava, quando não me escondia. Como somos parecidas... Mas, ainda assim, quando no esconderijo, por que não me procurou, onde você estava? Sei que me carregou nos braços, enxugou minhas lágrimas com aquelas mãos do tamanho do meu rosto, penteou meus cabelos tentando deixá-los em ordem, deu-me todos os xaropes necessários. E fica a dúvida de onde estava você enquanto meu coração se partia. Sei que esteve no quarto ao lado, e penso que vez por outra olhou pela brecha da porta. Mas, onde você estava? Que espécie de lentes eram aquelas que você usou e por isso não me viu tão bem? E por que as deixou num lugar tão baixo, ao alcance das crianças, onde eu as pudesse encontrar e usá-las, imitando sua atitude adulta. Passei a ver com seus olhos. E já não vi você nem mais nada. E não sabia mais onde eu estava. Não sei onde você estava, apenas sinto uma falta tão poderosa de anos a fio que ainda me fazem chorar, mesmo sabendo hoje onde encontrar você. Só não sei procurar, buscar, pedir que fique, tudo porque não vi onde você estava.
Pare com isso de culpa porque eu já não a busco. Sou consciente das limitações e acabei descobrindo que você estava em si, no meio de suas muitas dores. Como somos parecidas... E vejo-me agora, culpando-me, chorando, por saber onde você está e não saber amparar quando posso ou quando devo, ou simplesmente não querer ao menos olhar, perdida num não querer de raiva, solidão e paralisia inútil. Eu amo você e a cravei com pregos rústicos em meu peito consertado por minhas próprias mãos, jamais a perderei. Queria que você tivesse feito o conserto por mim, neste peito de costuras sem arremates, de remendos, materiais diversos e substâncias que estancam o sangue. Penso que seriam menos marcas ou cicatrizes, menos danos depois de tantas perdas. Mas talvez se o fizesse, esquecesse de colocar a si mesma no meu coração. Talvez seja essa a razão de eu ter sofrido tanto, ter você dentro de mim. Onde você estava, não importa? Que vou procurar no passado? Mesmo que já não esteja, estará pregada em mim, é o que faz o desespero, mais do que o amor. Eu a amo desesperadamente.

sábado, 7 de maio de 2011

Se digo que não quero é porque quero

Loucura pensar em você neste minuto e no próximo, ou mesmo daqui a pouquinho. Mas penso, e ao mesmo tempo sinto um prazer inexorável. E quando penso em não pensar já estou pensando, pois assim deveria ser com o não segurar a sua mão no tempo de uma breve em Adagio, assim deveria ser com o não abraçar você embrulhada no seu moletom e sendo a sua segunda pele, assim deveria ser com o beijo que não vai acontecer... As negativas deveriam ser sonhos, os desejos, pelo menos possibilidades. Os meus quereres conscientes de não pertencerem a você deveriam ser transportados para o seu coração, através dos nossos olhares, ainda que fossem aos pedaços. Pequenos pedaços estilhaçados e quase irreconhecíveis, mas eu estaria em você.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Porta na cara

Odeio bancar a imbecil quando me importo, colho as flores que plantei, parto para entrega-las e sou recebida com uma pancada da porta na cara. Certo, não posso obrigar ninguém a se importar porque me importo e talvez essa sentimentalidade toda não convença. Mas receber flores não machuca, então receba, ainda que seja para joga-las fora. Não quero entrar para tomar um chá, não quero dividir, quero doar apenas. Ser amável e ir embora. Triste é não receberem as flores por pensarem que quero algo em troca. Porta na cara, buquê na mão, sentindo-me uma idiota. Abandono as flores e levo a sensação da preferência da agressividade e do fazer sofrer enquanto se sofre. Tolice querer distribuir flores. Tolice pensar que se pode levar segundos de alívio com o cheiro e as cores dos tolos lírios, das bobas violetas, das orquídeas abestalhadas.

Bagunça

Alguma coisa em você bagunçou algo aqui dentro. Mas, eu não quero que você saiba. É claro que um pouco disso é o medo da rejeição. Mas outro pouco quer simplesmente se apaixonar num esconderijo, num quarto escuro que me impeça de expor minha pele a um sentimento e impor a minha carne uma busca insana. Então, não quero saber se é verdade o susto que leva meu coração pulsando tão agitado quando se depara com você, e nem se é esse pulsar que impede a profundidade honesta do meu olhar nos seus olhos. Nem de você quero saber, da sua história, do que lhe vai por dentro, e vou tentar evitar o que lhe cerca.  Mas esse tumulto interior pede que ao menos eu sinta silenciosamente esse pandemônio todo que grita seu nome, ainda que eu não sinta você além do meu sentido perturbado. E se meu esconderijo for inútil e você perceba o meu sentido e se ria e se inflame de orgulho de si, visto minha máscara de "não me importo" ou a outra de "isso não é comigo". E enquanto meu coração desarranja, vamos nos cruzando para que eu me esvazie de expectativas, esperanças e vislumbres. E ao mesmo tempo, me preencha de um não querer tantas coisas por pura falta de opção. E por desejo, porque mais do que intuitivamente, sei o nome dessa bagunça toda: DESEJO.

domingo, 1 de maio de 2011

(in) consequencias

Sou uma daquelas pessoas que se casaria numa igrejinha na beira da estrada...
Com alguém que conheci na beira da estrada...
Que diria não no altar...
Que pediria divórcio no dia seguinte...
Que sumiria na mesma semana...
Que viveria feliz num flet, amando quem me amasse, dividindo o pote de sorvete e brigando por causa do cachorro...
Capaz de amar agora e odiar no próximo segundo...
Capaz de perdoar a pior traição para não ficar só...
Capaz de recordar o erro mais tolo pra me livrar de alguém...
Sempre convicta de meus sentimentos e sempre duvidando da sombra de meus atos, se são frutos da minha impulsividade e intensidade...
Dificilmente paro pra pensar. Eu penso enquanto corro com pressa não sei do que e com medo de chegar onde quero.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Para ser girassol

Liberte-me e permita-me conhecer o mundo. Das margaridas do umbral desta janela, cada pétala já sei de cor. Quero ver os campos de girassóis. Ouvi dizer que são flores fortes e que não se incomodam em mudar de direção. Permita-me vê-las, para aprender a ser como elas.
Permita-me cheirar a fragrância de cada frasco de perfume existente nesse mundo para que eu descubra a que eu mais gosto, para que eu escolha a que eu quero que me defina.
Permita-me provar diferentes e raros sabores, estranhos para você. Mas não me deixe com a dúvida de saber se são deliciosos para mim.
Permita-me tocar toda estrutura e textura, subir montanhas, descer degraus, correr, andar, saltitar apenas por fazê-lo.
Quero ir para o quintal da madrugada, embrulhada num lençol, para contemplar o planeta girando, conhecer satélites e estrelas, ver o céu na sua completude e permitir que o céu me veja.
Permita-me sentir na pele a dor do vento frio, o aconchego do calor, o prazer da chuva, as cócegas dos grãozinhos de areia, o ar livre.
Permita-me conhecer gente nova, abraçá-las se houver carinho e tomá-las para minha vida. Permita-me ter vida.
Porque veja, que loucura! Descobri que há gente atrás desse muro cinza que cerca a casa da minha alma. E essa gente está pintando o muro com cores tão belas. Eu ouço murmúrios vermelho-amarelo-azul. Eu quero me lambuzar dessa tinta. Liberta-me da culpa de sair de mim para poder ser.

Até quando?

Será que vai ser sempre assim? Essas idas e vindas com perdas e danos constantes por algo tão banal.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um homem pra chamar de meu

Eu posso sonhar. Com possibilidades de transformação e sem necessidades de termos de garantias, de prazos de validade, a variação do indelével, do impossível, do doce sonho.
Ele seria acima de tudo homem, porque de super-heróis estou cansada. Quero um homem humano, que chore, que sofra, que aceite essa parte da vida de peito aberto e vez por outra feche o peito, para não se valer de tanta dor, porque ninguém se vale, ninguém suporta.
Que sorria apenas de prazer. E faça-me sorrir, gargalhar até que eu abra a boca com os olhos lacrimejados de, não necessariamente alegria, mas de pura graça, tantas vezes melhor que uma plenitude inexistente. Que seja alegre na busca da alegria, que tenha pulsão.
Ele veria meu lado terno, doce, meigo, puro, infantil e quase delirante de tão casto. Veria minha candura preservada. Veria também meu lado torpe, mas nem todo, fecharia um pouco os olhos, seria prudente. Mas teria a consciência da minha agressividade, impulsividade, infantilidade insuportável. Das minhas mãos carinhosas, afáveis, suaves e cheias de unhas sempre afiadas, quase garras. Da minha ambivalência. Não esperaria de mim nem santa, nem devassa, sabendo que posso ser as duas e por isso nenhuma.
Paixão, emoção, adrenalina, ele teria.  Arriscaria um salto mortal, não acharia bobagem dançar a noite inteira, saltaria comigo de paraquedas.
Compreenderia a minha poesia, ou nem compreenderia, mas degustaria com paladar aguçado, com desejo de saber de mim.
Encorajaria-me em meio aos meus pavores tantos, respeitando meus limites e dando-me a mão para andar por cima das águas, ainda que eu naufragasse. Não, eu não quero um Jesus Cristo, pois Ele perguntou a Pedro “homem de pouca fé, por que duvidaste?” Quero alguém que diga, “você veio até a metade, pode encarar o resto”.
Enfim (não, não é o fim), superaria o meu passado, enfrentaria o meu futuro e me ajudaria a deliciar-me no presente, construindo comigo outra história, possibilitando-me escrever a quatro mãos.
Não precisaria ser como eu (e nem deveria), e nem sempre sincero, mas encantador. Um homem que às vezes me matasse de amor e outras me deixasse no meu canto, quieta e lenta e distante.
Ele veria minha alma através do meu peito, dos meus olhos, das minhas palavras. Silenciaria pelo sofrimento que exige silêncio e com o restante de som vindo da dor passada, ou presente, ou mesmo da alegria calada, tudo por um futuro mais leve.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"Louco é quem me diz"

Às vezes necessito que permitam que eu esteja infeliz. É como se fosse um respirar para o dia seguinte, para aguentar a próxima queda, o mal vindouro do próximo nascer do sol.
Permitam-me ser fraca por alguns instantes (mesmo que por longos instantes) e parem de pensar disparates e fazer exigências quanto ao que dizem meus olhos. Essa lágrima que inflama, mas não rola é a ausência do essencial, são danos irreparáveis causados por lembranças infantis que não deveriam ter sido vividas. Relações primitivas de uma alma rudimentar e estagnada.
O passado é imutável e as dores devem ter fim? E que dever a vida tinha ao me ofertar horrores enquanto menininha? Se o passado é imutável, meu coração não cresceu, engessou dolorido e amedrontado.
E devo ao tempo superação? Afinal, quanto tempo o tempo já fez? Certamente os bons já teriam superado. Mas que ação me fez o tempo, se apenas refez pensamentos e atos de minhas mãos reféns de segredos que grito ao vento. Segredos de uma dor perdida nesse tempo que não ouve (não houve ninguém capaz de ouvir).
Preciso doar ao mundo um pouco mais que esse sorriso manco? O mundo não notou meus olhos inchados, que eram aquilo então? Uma infecção permanente que me trazia um sono profundo e me arremessava ao chão do quarto? Aliás, o quarto era meu mundo.
O passado se foi com o tempo e o mundo continuou a girar numa velocidade que posso sentir, talvez porque o coração tenha continuado a bater um tanto desacelerado. E nesse descompasso, segredos guardados foram escoando por brechas que não sei onde estão... E os olhos? Por Deus, vez por outra, devem chorar, ainda que eu tenha tido forças de levantar do chão e arrombar a porta do quarto planeta.
E agora, querem dizer a mim como devo conduzir meus passos e o que devo sentir. Meus deveres, meus deveres, meus deveres. Saibam que não por obrigatoriedade, quero ser feliz, e tenho sido, mas com a mais pura honestidade sou feliz quando é possível sê-lo, como sei e à medida que aprendendo.
Não quero piedade, consternação, comoção e estou cheia de tanta gente disposta a restaurar meu sorriso. Gente que, é claro, teria sido, e é mais forte do que eu e não há incomodo nisso, na força de outrem, por que haveria? Mas que meçam as palavras caso me vejam chorando, ou então calem a boca. Nenhum de vocês segurou a minha mão quando meus pezinhos equilibravam-se no sétimo andar da janela rudimentar daquele escritório, enquanto eu ouvia apenas uma canção no último volume “mas louco é quem me diz, e não é feliz, não é feliz”.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Brinquedos do Pensar

Era uma vez uma menina que nem sabia que era menina. Ela sonhava em ser sereia, e repetidas vezes brincava em pensamento que o era. Era uma vez uma menina que brincava por meio de pensamentos, esses seus brinquedos prediletos, porque ninguém via, ninguém segurava, ninguém lhe obrigava a guardar, ninguém dizia se custaria muito tê-lo, ou que ela não poderia manuseá-lo devido a sua tenra idade. Então a menina pensava, e talvez de tanto pensar perdera o senso de que era menina. Sim, fora sereia, mas afora isso, fora uma mãe guardiã de seus irmãos, fora a filhinha do papai, fora a dona da casa e a dona de si mesma. Não havia armas em seu arsenal de pensamentos, até limitados, porque ela demorou a criar amigos. Era uma vez uma menina que amigos nem inventava, mas entrava em todas as histórias que lia (e como lia) e fazia-se personagem de todas elas. Aprendeu que sereias eram mais do que imaginava e desejou o poder de domínio do canto e aprendeu a cantar. Andou inúmeras vezes com Dorothy pela estrada de tijolos amarelos, mas achava uma tolice querer encontrar-se com o Mágico de Oz, afinal, para que voltar para o Kansas se ela podia “além do arco-íris”. Resolveu então viajar com Fernão Capelo Gaivota e chorava com ele a cada momento de rejeição, a cada queda na sua tentativa de voar como águia. Não gostou de Monteiro Lobato por dizer tão mal da velha Anastácia. Sem entender como podia ser admirado, não quis passar nem perto do Sítio do Pica-Pau Amarelo. Foi a menina vendedora de fósforos e imaginava a cena de sua morte tão linda e iluminava como a dela, com seus cabelos louros brilhando ao sol da manhã de inverno num país tão longe. Era uma vez uma menina que brincava tanto de pensar que nem sabia como era o seu rosto, pele, cabelos, corpo e nem percebia que crescia, apenas quando diziam. E ela não gostava do que lhe diziam, então preferia voltar aos pensamentos, aonde ser Iracema valia mais a pena. Gostava da dúvida que causava em Bentinho, quando Capitu, mas recusou viver a despedida trágica de seu Amor de Perdição. Entretanto tenha muito chorado com Romeu e Julieta, viveu aquela paixão mortal, mas preferia o amor insano de Romeu. Apaixonou-se por Allan Poe e Augusto dos Anjos. Depois conheceu Drummond e então seus pensamentos começaram a ganhar liberdade tal que as histórias e poesias não lhe bastavam e ela criava as dela, com seus amores platônicos, suas paixões enlouquecedoras e libertinagens permitidas. Fernando Pessoa lhe dera força para tal intento. Criava tanto que se esquecia de olhar-se no espelho... Então que inventou um fora do pensamento tão ruim desde sempre. E quando seu pensamento desgastou-se, percebeu que não poderia inventar mais nada que pudesse ser além do que era e nem sabia. A lembrança de Clarice Lispector lhe permitiu toda a tristeza que lhe cabia quando finalmente percebeu-se mulher. Então a menina que nunca soube que foi menina e que havia deixado de ser menina há tanto tempo, odiou seu novo velho estado. E por odiar-se inventou que todos a odiavam também.
E essa menina era a coisinha mais linda do mundo e havia tornado-se uma mulher exoticamente bela, tanto quanto era quando menina. De belo sorriso e gosto diferenciado, ainda que jamais pudesse ter percebido. Em sua mente nunca fora amada e nunca amou. Criou amizades então e desfez-se dos amores que nunca existiram.
Enfim, era uma vez uma mulher que demorou anos para enxergar-se além de seus pensamentos, mas de repente viu-se bela: pele dourada, corpo torneado, cabelos do jeito que quisesse e alguns adornos que lhe traziam a um estado de graça de ser mais mulher.  A partir de então imensamente desejada, cobiçada, interessante, inteligente – todos declarando, declamando, cercando e assustando por ser algo além da imaginação. E agora essa mulher não sabe o que fazer, não com o tempo vago do pensamento, mas com essa coisa que lhe parece realidade: tantos olhares e tantos queres, sem necessidade alguma de invenção.

sábado, 9 de abril de 2011

Carta ao meu flautista mágico, Luiz Marcelo

Sinto saudades do James Galwey pelo chão do quarto mais meu do que seu, e inteiramente tomado por você. Gavetas e estante quase minhas, repartidas. Sinto saudades de repartir.
Não vejo mais meu violão deitado em meio aos lençóis desarrumados – por você – da minha cama. Sinto falta do seu siso em achar braveza em mim pela desordem que eu até permitia. Sinto falta do ciúme que eu sentia de você pela minha falta de talento.
Saudades da erudição nem tão rebuscada, rígida e categórica. Da paciência de, vez por outra, me ensinar a cantar. E cantar comigo, sem se importar o quê.
Sinto falta de quando meus conselhos lhe serviam, de quando você os buscava, de quando via em mim credibilidade para tanto. De ser sua confidente.
E por toda falta, gosto de quando se enfia por aqui, surpreendendo-me ao me ensinar uma coisa ou outra do que a vida lhe ensinou. Surpreendendo-me por não saber outras tantas, por esquecer-se de minhas limitações, fragilidades, diferenças. E não perceber o quanto somos parecidos e pequenos e vulneráveis.
Menino, sei que o carinho não acabou, mas anda enrustido. Que droga de vida adulta, não é? Ah! Como eu tinha medo que você bebesse dessa água que essa gente que cresce é obrigada a beber.
Queria você criança novamente, e se voltasse a me perguntar sobre a vida, eu seria mais desonesta, inventaria outra história bonita que durasse mais um pouco. Mas sempre fui sincera e lhe peço desculpas por isso, e ainda peço que nada mais me pergunte do resto que sei, porque prefiro não contar. E como você cresceu, já é tarde pra inventar.
Tão grande menino grande, como amo você. E todo o seu talento sem máscara alguma e toda sensibilidade sem vergonha. Orgulho-me meu menino, embora você não seja meu. E peço que volte a olhar nos meus olhos e que fixe apenas no olhar quando perceber minha roupagem espinhosa de “afaste-se, por favor”, porque o que o coração grita é “aproxime-se mais e mais e mais”. Eu tenho muitas flores, “meu filho”, para oferecer, embora não possa ser sua mãe e muito menos heroína.
Lamento tanto seus olhos tristes esvaziando-se de expectativas. Não permita, é tão cedo. Tudo vai acontecer, meu menino de dedos e sopros mágicos. Você está apenas no ensaio da vida. Há um tudo tão lindo esperando você no dia do infinito espetáculo inesquecível, quando você perceber as cortinas abertas e o mundo todo seu, assim como meu quarto foi um dia. Você só precisa ser você para tocar o mundo que lhe espera. Então, toque menino. Você é a canção mais bela que eu já conheci.
Quero nossa cumplicidade, troca, compreensão do inesperado, e esperanças conjuntas novamente. Nossas antíteses diárias de gargalhar de coisas absurdamente tristes, sabendo que são tristes, e conscientes ainda mais da vontade da leveza. Intuitivamente percebemos a necessidade da leveza, e talvez seja por isso que sejamos quase um, e únicos ao mesmo tempo. Unidade fraternal limitada pelo o tudo que jamais tiraremos do entre nós. Um tudo que nos perpetua nós, jamais apenas eu.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Nova canção

Não cantarei mais o Retrato em Branco e Preto, a bossa-fossa, a canção solidão narrativa do caminho dos passos descalços na estrada rachada pela aridez do tempo. Chove, e não é tempestade. Chove o que a vida precisa para não passar seca. Caem os pingos necessários. Impossível continuar pintando com preto carvão, tentativas foscas de sombra e sombra e sombra. Essa não é mais a paisagem natural. Há a luz que invade, alastra, toma posse do quadro quase negro. Como a trepadeira que revela a força da vida enquanto cresce e esconde o muro cinza. Ela traz cores, um verde que grita, um tom diferente, que a princípio soa estranho, porque é som de alegria. A canção é outra, outra nova que não é bossa. O retrato é em cores. O tempo é limpo. O céu é aberto. O coração é novo. Nenhum dos mesmos tristes velhos fatos configura-se realidade. Desfiz-me da coleção de fotos em tons de cinza. O medo imenso tenta ainda sufocar minha garganta. O medo grita o abandono passado. O medo implora para que eu paralise. O medo, o medo, o medo, ora medo. O medo não me impedirá, já não me impede. Pobre Drummond, para quem não pude contar a verdade do segredo, aquele que todos pensam saber, aquele da vida que não presta, pobre Drummond.  Mas não é o que não presta o grande problema do mundo. A gente é que transforma a dor em epigrama, o epigrama em epitáfio histérico que propaga a tristeza feito epidemia, como ele disse. Mas agora sou eu quem digo que esse é o segredo torto. O medo vai duvidando enquanto continuo andando e cantarolando baixinho outra canção. A estrada eu também nem conheço, mas prossigo. Vou escrever tratados de risos não obrigatórios, mas perpétuos por espontaneidade. Vou colecionar é a prosa boa de amores possíveis, a paisagem colorida e mutável da janela para o quintal da minha alma. Porque meu coração cansou da vadiagem da tristeza. Ele agora trabalha, responsavelmente, perseguindo alegrias – ainda - desconhecidas. E eu estou inteiramente pronta pra saltar com todas elas.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Bordados de emoção


Traga todas as coisas bonitas que você tem. Pra contar. Pra viver. Pra somar com as minhas. A gente divide o pincel e a tinta e borda frases de amor na pele. Declarações superficiais para trazer o gozo de ser. Traga lentes do interior para revelar como são os corações. Por que é que meus olhos incham quando pensam? Por que o amanhã se apresenta assim, tão solene? Por que é que sinto tanto frio nesta noite de outono? Serão os corações revelados? Quebrados? Moídos? Congelados? Melhor expor os corações na parede, para espalhar e dividir toda essa dor com o mundo. Cada qual cuida do outro, porque assim deveria ser a vida. Dividida. Passe o esparadrapo, por gentileza? O mercúrio. O mertiolato. A gaze que está no fundo da gaveta. Vamos nos ajuntar para encontrar a chave perdida da gaveta que guarda os materiais de primeiros, segundos e terceiros socorros. Então, estaremos perto uns dos outros. Recolheremos os caquinhos uns dos outros. E faremos pequenos cortes nas mãos com os caquinhos que são nossos e dos outros. Não é para isso que dividimos espaço neste mundinho que dá medo? E enquanto a hora vai passando, percebo que a noite cai e cai ainda mais, como eu caio. Faça-me a gentileza de sorrir. Passe o pincel e bordarei que me amo enquanto espero o seu sorriso, passe-me o pincel. Não derrube lágrimas, por favor, a não ser que cada uma delas transforme-se em flores. Derrube as flores sobre mim.

Quando menos é mais

Queria ser menos.
Dedinho de licor de menta, e não dose dupla de whisky cowboy.
Bombom de chocolate meio amargo, recheado com nozes, e não lata de leite condensado.
Uma onda lambendo a areia da praia e apenas umedecendo os pés de quem passa. Mas sou água nervosa que só surfista, explodindo adrenalina, enfrenta.
Queria ser Água de Colônia, e não Patchouly.
Raspa de maça, e não Jaca.
Música em Dó maior, e não em Si bemol.
Canção de ninar, e não a Bachiana.
Um tom a menos. Menos brilho. Menos contraste.
Pra gostar, e não morrer de amores.
Pra ser apreciada, e não engolida.
Não pense que é só você que sofre com esse meu muito.
Enquanto pratico alpinismo no Evereste, tem gente contente por subir de elevador.
Quero experienciar esse prazer.
Mas, se sou livro, sou Homero.
Se sou tinta, vermelho.
Se sou disco, ópera.
Se dinossauro, velociraptor.
Se sou filme, um drama verídico.
Se sou brinquedo, quebra-cabeça de cinco mil peças.
Se sou lei, o Código Penal.
Se sou pena, a de morte.
Se sou morte, a trágica.
Entende que quero ser tatuagem de henna?
Caderno de entretenimento?
Gordura vegetal.
Frutose.
Flerte.
Romance água com açúcar e final feliz.
E fico na tentativa da desconstrução, com o esforço de um guindaste, carregando peso de
halterofilista, pra tentar interromper o muito.
E demoro pra perceber que muito com muito é mais.
Porque se sou bicho, sou ser humano.
Se ser humano, exatamente quem tenho sido.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Para minha mãe (porque a amo)

Não penso que devemos amar nossas mães apenas por serem mães. Você tem o direito de não amá-la. Parece-me quase obrigatoriamente religioso, sociológico, político, entre outras coisas mais, o “amar a mãe”. Um quase mandamento, um padrão humano de normalidade afetiva, um “dever cívico” para a barganha. Nesses termos, amar a mãe é quase uma ironia.
Ainda há o fator fisiológico da obrigação de amar pelo sofrimento que a fizemos passar, dos nove meses com insuportáveis dores nas costas e pelos seus órgãos internos deslocados, as estrias que surgiram, pressão-alta, diabetes, a dor do parto (de passagem, a pior dor do mundo), a dor pós-parto, as noites sem dormir, os bicos do peito rachados pela amamentação, o choro inexplicável, as filas de pronto-socorro. Quase a matamos, enfim, devemos amá-las.
Antes que alguém pense que não, sim, amo minha mãe, mas não por nada disso e não que esse nada seja nada. Amo minha mãe porque ela é humana. Porque sofre, e como eu, por vezes, escolhe sofrer – ao que me parece, filhos são sofrimentos. Amo minha mãe de uma maneira narcisista e desapaixonante, porque nela vejo minhas falhas, com menos ousadia, mas estão nela. E vejo as minhas dores com um tremendo medo de como será meu futuro. Minha mãe é dramaticamente real. Detesto seus desprazeres e odeio quando a odeio, mas porque tem desprazeres a amo.
É claro que ela tem atributos admiráveis e tão fáceis de dizer, mas a intensidade do meu amor por ela não se aflora nisso. Meu amor expande após uma explosão de desgaste entre nós porque vejo que eu sou ela, estou nela, em todas as coisas que considero tolices, em todas as coisas que me fazem ter raiva, em todas as coisas que me fazem querer ser diferente. Nos sorrisos e lágrimas, compartilhadas ou não.
As razões pelas quais amo minha mãe vão além do nascimento, da criação, do tempo. É um relacionamento construído, destruído e reerguido num eterno ciclo. Porque as mágoas não se vão com o vento e nem se cobrem com doçuras. Amo minha mãe porque no meio de nossas durezas, vez por outra, conseguimos nos abraçar nas necessidades de carinho, atenção, afeto e do próprio amor. Por todos os seus defeitos, tenho certeza que a amo. E sempre que me imagino sendo salva por um triz, é a mão dela que vejo, ainda que eu não a sinta.

domingo, 27 de março de 2011

Desejo contido (ou desarranjo)

Desarranjo é o silêncio que eu não escolhi ouvir e incomoda-me, por vezes, sem sofrimento. Outras com uma perturbadora presença de ausência. Talvez seja apenas um problema neurológico do lado direito do cérebro que me faça ter alucinações auditivas. Ou talvez apenas desejo. Quanta desculpa, quanta bobagem, quanta falta de palavras para falar de desejo, meu Deus... Desejo contido.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Me jogue das nuvens

Meus sonhos não têm suporte algum, principalmente quando sonho com você. Deveria haver algum alicerce, coluna ou o pé de feijão do João. Mas não há nada, apenas vago no céu do sonho. Talvez meu erro tenha sido aceitar comprometer-me com toda a emoção que não me pertence. Agora já estou nas nuvens esperando você me jogar do alto...

quarta-feira, 23 de março de 2011

Homens que me fazem felizes (e suas inexistentes filosofias)

Certamente cometerei injustiças, mas vou começar por Chico. Temos uma relação tensa de amor e ódio pelas verdades que me diz, assim, como quem se ri do que provoca quando fala. E ainda canta frases que se repetem pairam o dia todo na mente.
E Leônidas? Capaz de presentear com doçura? Esse me presenteia com seus olhos ferozes e frios, que evitam a admiração confusa que o escudo não esconde. Não de mim.
Depois dele vou dizer da alegria de um malandro que fala que o melhor da vida é relaxar, rir e gozar. Esse quase canastrão sempre me tira um sorriso e sustenta o que resta de alegria se a tristeza me invadiu com suas palavras de encorajamento.
Tem outro que me ama desde que nasceu. E que hoje me engana fazendo que cresceu. Ficou marrento e bravo e meu colo já não pertence a ele. Ele é do mundo e o mundo é seu.
Não posso esquecer do carinho amigo de um outro da Arábia, tão ausente, porém detentor de todos os meus segredos. Vez por outra aparece, com o seu tapete mágico.
Ah! Tem o que me dá presentes desembrulhados que preenchem exatamente o que faltava no meu coração. O artista do momento do vazio e da indagação.
E o que ignora todas as minhas debilidades? Diga-se de passagem, por ele corrigidas há tanto tempo.
Os que gostam de mim sem me conhecer e os que eu desconheço o que por mim sentem. Os que me lêem e me aprendem. E os que raramente apreendem.
Talvez de todos, o mais verdadeiro seja Drummond, que dorme ao meu lado e me abraça com aquilo que em mim há de mais precioso: as palavras. Desculpem-me os demais.
 

terça-feira, 22 de março de 2011

Não quero mais te amar


Não quero mais te amar
Sem sacrilégio, sem sacrifício
Porque amor acabado não pode ser pecado
E se for, Deus do céu, há de haver redenção

Não quero mais te amar
Porque se amar já não quero, nem amo
E na perfeição dos seus atos, serei holocausto
Do orgulho ferido do seu coração

Então eu quero amar de medo
Mas que erro infeliz esse erro de amar
Você rio, debochou e eu disse eu te amo
De tudo sabia e estava enganado, meu amo

Não quero mais te amar
Sem ressentir ou culpar
Sei que por você não serei perdoado
Há de haver penitência, se não houver perdão

Não quero mais te amar
Porque se amar já não quero, nem amo
E na honestidade eterna do seu ser purificado
Não amor por você, meu pecado, é pura ingratidão

segunda-feira, 21 de março de 2011

Outra parte Marcele ao Senhor t (para saber quem sou)

Mais uma vez apresentando-me: misteriosa Marcele, talvez já nem tanto e talvez a mais misteriosa de todas. Ela ruge e morde, jamais apenas ameaça. Unhas afiadas, rasga, derrama o sangue, vê a carne, ainda que seja a própria carne - é o que ela chama de coragem. Tem olhos felinos e é mais mulher do que menina. Uma mulher que matou a menina que havia em si, assassina de canduras.
Marcele, como todas as outras escondida entre todas as outras. Mas essa grita, expõe a fúria nas ausências das necessidades. Então surgem as palavras torpes da sua bela boca em tudo avassaladora. (Mas todas as outras não o são?) Essa é a Marcele das maiores perplexidades e tão oculta em si mesma que derrete-se gelatinosa, em doce maria mole quando saciada. Ela apenas necessita ser saciada, mas não espera. É uma caçadora. Talvez tola caçadora enfrentando feras em busca de um gole d'água. Em busca de um brigadeiro.
Esconde-se na mata do próprios sentidos e essa é sua fase mais apaixonante, quando verdadeiramente se despe. Sua honestidade furiosa, no meio da vasta floresta é apenas uma tristeza incomum que não se aflora. Ou que se aflora longe dos olhos. Uma fera que quer que o amor renasça em si. É a Marcele que vê os maiores monstros quando pensa no amor. E não consegue enxergar desejos, não vê respostas, não sente paixão, ainda que em meio a desejos ardentes e na vivência de todas as paixões furiosas que não a derrubam - mas que ela tanto gostaria - por medo de que não sejam reais.
Senhor t, na verdade acho que todas as Marceles misturam-se em todos os momentos, minutos e segundos. Eu não as escolho, elas surgem. Sim, eu as escolho, elas vêem quando quero. Sou todas em uma e muito mais que todas.

domingo, 20 de março de 2011

Nova carta ao Senhor t (para saber quem sou)

Novamente Marcele misteriosa porque quero sê-lo, porque gosto de sê-lo, porque sei que assim instigo, provoco, choco – por que não dizer? Amo meu salto e minhas unhas vermelhas e minhas transparências e decotes quase não consideráveis e o que todos querem saber o que há por trás disso. Há o meu riso solto e aberto para todos, mas não a revelação do meu mistério.
Olho meus olhos no espelho, minha boca no espelho, meus cabelos e parece que cada um desses pertence a alguém dentro de mim que é maravilhoso em si mesmo.
Amo minhas cores e os sabores que tenho certeza que tenho. Adoro doces e sei da minha sensualidade ao chupar uma bala, um pirolito, um sorvete e gosto de fazê-lo em frente de todos, como uma criança faria, deliciando a inocência – mas todos vêem que não sou criança.
Gosto de cruzar as pernas de cor dourada e jogar a cabeça para traz com uma rebeldia controlada, para demonstrar uma alegria que encanta, uma felicidade que pertence a mim e que qualquer um gostaria de roubar. Que delícia uma alegria roubada!
Perguntam meu nome, eu repondo e frequentemente e continuo a conversa até chegar ao ponto de chegar ao ponto final. Gosto da raiva masculina causada pela certeza interna de que eles tudo possuem.
Converso com o mundo e agrada-me o colorido da vida. Já prestou atenção que tudo tem cores? Amo o sol ardendo na pele enquanto os outros procuram a sombra e amo tomar chuva e sentir a roupa grudada no corpo e os cabelos encharcados e olhar para cima enquanto todos escondem a cabeça dos pingos.
Gosto de conquistar seja lá o que for, não pela posse, mas pelo prazer da conquista. Enjoo rápido daquilo que tenho e quero sempre mais, ainda que seja o mesmo.
Se pudesse dançaria todos os dias, badalava chamando atenção até quando todos dissessem “como ela é linda!”.
Sento com pessoas diferentes e tenho conversas incrivelmente inteligentes que há quem nem aguente, mas há quem se encante e é com esses que o resto da noite vale a pena (que o resto da vida valeria).
Tenho sede do mundo, tenho sede da vida e sou incontrolável, impulsiva, capaz dos atos mais inesperados (que me causam arrependimento ou não). Essa falta de controle talvez seja para colocar para fora aquilo que ninguém jamais escutaria, entenderia ou mesmo suportaria.
Aliás, alguém suportaria a Marcele assim? Acho que querem apenas diversão, e amigo não terão. A minha diversão é diferente, é meu mistério.

Essa Marcele também não sabe amar, mas apaixona-se constantemente e como sofre e como erra nas paixões. Essa Marcele deseja ardentemente, ela é o próprio Desejo. Ela é viva, ela é vida, mas corta-se em pensamentos ao fim do dia quando a explosão se acaba porque não há explosão diária, porque o coração não aguenta. Nem o dela, nem o de ninguém.

Carta ao Senhor t (para saber quem eu sou)

Sou a misteriosa Marcele, tenho 29 anos e sou uma mulher um tanto menina. Menina porque tenho a sensação que deixei em branco pelo menos uns sete ou mais anos de vida para traz, assim sem vivê-los de forma natural. Anos que fizeram de mim quem sou hoje, essa mulher menina, menina mulher, como escreveu Gonzaguinha. Sim, concordo a respeito de todo mistério que me envolve, tantos já o disseram, com os mais diversos fins. Mas não por isso, por tantas vezes perguntar a mim, afinal quem é você? Olho-me no espelho e descubro diversas. Olho para minha alma, outras tantas. Talvez eu goste de ser misteriosa por puro medo de saber a verdade do espelho e da alma.
Disseram-me que sou sensual sem ser vulgar e que tenho um olhar cativante. Acredito nisso tudo, e que esse tudo acontece com a maior naturalidade. Mas sou tímida, a ponto de às vezes não conseguir olhar mais de três ou quatro segundos fixamente nos seus olhos. A não ser que você seja uma criança, ou a não ser que seus olhos me fitem. No caso de não ser criança, você inteiro deve me fitar para que eu o olhe, e será inesquecivelmente encantador para mim.
Sou uma garota de poucos sorrisos, mas que gosta de sorrir. Gosto de quem me faz sorrir e meus sorrisos serão sempre, sempre, sempre sinceros. Acho que fujo da minha própria alegria porque não sei onde a encontro. E tenho medo de encontrá-la em lugares obscuros, secretos, proibidos, onde por vezes já encontrei. Então fico pescando a alegria alheia. Não que as queria para mim, apenas para senti-las um pouco.
Sou contida, introspectiva e poética até em conversas informais. Amo conversar e se estiver só, sou capaz de encontrar pessoas para qualquer assunto e achá-las interessante, desde um jardineiro até um físico-quântico - e essas situações não são hipotéticas. Nunca me sinto deslocada, alguém sempre tem algo a ensinar e eu tenho sede de aprender.
Não me importo muito com lugares. Claro que gosto de belos lugares, dos mais falados e fotografados, em fim, mas prefiro o ar puro, o céu estrelado, os cheiros, os sabores, o toque, as cores, as lembranças doces.
Qualquer um me faz chorar de emoção. Sou extremamente sensível e poucos entendem tanta sensibilidade e talvez nem tenham mesmo que entender. Escondo-me muitas vezes para chorar, em outras, não é possível, então paro choro ali mesmo. Acho que chorar deveria ser natural como sorrir. Ninguém olha para você se você sorri, mas se espanta quando chora.
Sou detalhista em palavras. Percebo todas as palavras quando direcionadas a mim e as guardo no coração. Eu deveria andar com uma placa dizendo: cuidado com o que me diz. Muitas vezes transformo pessoas, sutilmente, em textos e acho que as eternizo. Muitas vezes a transformo em emoção e nem queira saber o que acontece. Muitas vezes acredito nas palavras impensadas e aleatórias que me dizem e como me firo com isso.
Ao mesmo tempo, o mundo distrai-me. Poucas coisas realmente prendem-me, amarram-me, surpreendem meus olhos e ficam na minha memória. Talvez por isso eu goste da Arte, porque para mim ela é o mundo transformado, nem belo, nem feio, mas feito pra ser visto de forma incômoda.
Gosto de ler e escrevo compulsivamente, escrevo mentalmente, escrevo com lápis, caneta, em cadernos e guardanapos. Se minha mente registrasse meus textos o mundo leria coisas tão belas. Mas escrevo mesmo é para mim, para colocar para fora coisas que ninguém jamais escutaria, entenderia, ou mesmo suportaria.
Sou musical, mas ultimamente não tenho cantado, abandonei o violão, vendi o violino. Estou desaprendendo a espantar meus males. Preciso voltar a cantar.
O amor para mim é incompreensivo, não aprendi muito sobre ele desde garotinha. Sou péssima em amar, desculpem-me todos. Mas quero aprender, e às vezes quero ridiculamente aprender sozinha. Pensando bem, não é tão ridículo, porque posso aprender a amar-me, o que é difícil, porque sou todas essas coisas e uma porção de outras espantosas, monstruosas, não tão belas, mas que não me envergonho de contar.

sábado, 19 de março de 2011

Olhos barrentos

Por que dizer abranda, alivia a carga da dor? E quando não se pode, por respeito ou por amor? E você vai achar estranho dizer amor e eu ficarei substituindo as palavras para passar o tempo de sentir o peso de não falar o quanto pesa meu coração. Não possso dizer por carinho, amizade, consideração, afeto, afeição. Enquanto isso seus olhos fitam-me rapidamamente para que eu não os perceba que são um rio de águas barrentas. Esses olhos de de água doce, de rio profundo e largo de margem a margem. Interessam-me esses olhos - ao que me parecem - de pouca vida. Não quero as redes, porque penso que, as vezes, você gosta do emaranhado das redes, elas o sustentam, o mantém na tentativa da resposta do por quê seus olhos, coração da alma, são assim. Não posso dizer o que quero, enquanto você só permite a mim atravessar o rio, e tantas vezes me arranca dele pelos braços como se eu não soubesse nadar, como se delicadeza que transfroma a paisagem em bela e nova o incomodasse. Já estou molhada, rasguei-me em suas redes, meus braços já cansaram-se prazeirosamente. Eu quero, por algum motivo, a outra margem do rio. Porque não tenho apenas beleza, tenho uma força que permitirá andar no ventre do rio ou como disse o poeta "na terceira margem". Aliviaria ainda mais, se com coragem, você olhasse nos meus olhos.

Planos desconhecidos

Nunca fui dessas que costuma fazer muitos planos. Aprendi que deveria, mas ainda não os faço a longo prazo. Ao mesmo tempo fico na expectativa de que um algo incerto acerte em cheio meus olhos furiosos trazendo-me calma. Seria o algo que deu certo dos planos para o futuro ou apenas a expectativa de vislumbrar o desconhecido?

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sorriso da alma

Quero ofertar um sorriso da alma. O do rosto você já conhece, mas quero que sinta o da alma, o que instiga, provoqua, seduz, mas não machuca (embora as vezes eu gostaria que sim). Essa sou eu depois da tristeza, sem nada que me segure porque não há mundo ao meu redor. Procuro almas sorridentes, abertas ao meu abraço e aos que me abracem, apenas isso. Mas não creio que seja essa a sua alma porque sua tolice o faz crer que tudo o machuca. E eu gostaria que meu sorriso o ferisse, como já disse, mas ele não vai porque é apenas sorriso, e os meus não são mentiras. Sorrisos não plantam problemas, apenas arrancam as ervas daninhas. Receba meu sorriso, meu presente aberto, desembrulhado, sem esperança de troca. E eu nem me importo se me ferir nos seus espinhos que inundam o caminho que me leva até a sua alma, contanto que você receba meu sorriso. Seu tolo, inerte, medroso e ferido em si mesmo, receba o sorriso da minha alma que eu oferto com respeito e gratidão.

Que droga de beijo

Chega e buzina.
"Já vou abrir!"
Apanho a chave que nunca encontro, e no portão, ele faz a mesma pergunta de sempre, repete a mesma frase de sempre. Boca-na-boca ridiculamente chamada de beijo. Às vezes um cheiro bom de perfume faz crescer as expectativas da noite que logo morrem quando ele olha para mim com mesmo olhar.
Eu, salto, vestido provocante, a maquiagem que combina com o tom da pele e da lua.
"Oi".
E fico esperando um algo assim mais aconchegante que não vem, então passo a não esperar mais nada. Mas que droga de noite. "Oi?" Mas que droga de "oi", mas que droga de "beijo", mas que droga de adornos que mais parecem o figurino de uma cena que deveria ser feliz.
"Você está quieto".
"Você está quieta".
E o silêncio torna-se motivo de uma agravante briga repetitiva que começou no portão. No portão? Na porta do coração. Naquilo que deveria ser semeado e não foi.
Erramos.
"Para onde vamos?"
"Para onde você quiser."
"Eu quero um lugar diferente"
E lá vamos nós para o mesmo lugar porque a minha palavra não vence, e ele rindo de mim dizendo que eu não aguento badalar.
A conversa flui algumas vezes agradável. Outras vezes eu apenas o ouço com raiva de algumas palavras que fico repetindo e engolindo dentro da minha cabeça. Tento ser agradável e de repente falar de mim? Melhor calar, porque pra ele só tenho erros. Então me calo.
E a noite vai terminando do mesmo jeito que sempre termina.
Por vezes com uma conversa dolorida "eu não sei mais o que faço porque você não era assim". Então eu choro, porque eu não era assim e não sei o que me fez tão diferente.
Ele deixa que eu chore um choro dolorido e espantoso por um tempo que parece eterno. E o choro é apenas o pedido do abraço depois do portão aberto.
O consolo é a cobrança do "mude por favor, seja o que era". E o choro continua no travesseiro porque o que era já foi, já não pode ser. Nem ele é, mas insiste em dizer "eu não mudei".

quarta-feira, 16 de março de 2011

Provas de um não amor

Você não se importa. Não se importa com o abandono na sala de estar (ou qualquer outro lugar) e desculpa-se porque estou confortável. Cinco, seis, dez horas esperando, tanto faz. Mas você não sabe que bancos, estofados, almofadas, cama, o próprio sono, nada disso conforta o coração. Mas você não se importa porque simplesmente não me abandonou na rua, na chuva, perdida. Eu preferia estar na chuva, na rua e perdida, porque isso sim seria o meu conforto, eu me encontraria, mas você não se importa.
Você não se importa com o abandono na mesma sala, com a ausência de si mesmo, e diz que estar ali é o que importa, em outras palavras, você é o que importa.
Você não se importa se é com você que me importo, se me desdobro, se dou piruetas, ando na corda banda e enfrento os leões. Você não se importa se quero cuspir fogo pela boca, porque meu dever de mulher é ser muda.
Você não se importa se fiquei bela, se existem olhares me olhando. Não percebe que fiquei bela para você porque pensa que me possui. Nem percebe que fiquei bela.
Você não se importa se estou feliz com o espelho e me pede mudanças aqui e ali, para trocar a peruca de menina de cera, amenizar a maquiagem, mudar a cor da roupa. Se sou o que sou, você não se importa.
Você não se importa com minha angústia, porque para você é injustificável. Não se importa se quero falar, se preciso falar. Você não se importa se não me entende e o único esforço que faz é que para que eu seja sua bonequinha de luxo, ao seu modo, sorridente.
Você não se importa se passo as noites chorando, contanto que não veja as lágrimas. Não se importa que eu sofra, contanto que não veja o semblante. Não se importa que me fira, contanto que não veja o corte.
Você não se importa se não me ver, nem com minhas necessidades. Não se importa se me comprometo e me quer livre quando me quer.
E é de tanto não se importar que eu olho assim para você, como se a falta de importância nem tivesse importância.

terça-feira, 15 de março de 2011

Abandono justificável

Não, eu realmente não sou forte. Não consigo ultrapassar certos obstáculos e algumas vezes sento-me em frente a eles e os fico observando e choro feito criança, como se não pudesse me levantar e tirar aquela tralha do meu caminho.Nunca pratiquei nem um ato memorável sequer, não sou digna de louros, não sou merecedora da vida, não possuo a coragem dos grandes. Sou fraca e cometo erros inúmeros - não desses habituais, dos simples mortais, que passam despercebidos. Eu realmente erro, cometo erros absurdos e repito-me nos erros, embaraço-me neles, naqueles que todos dizem "não-faça-de-novo", lá vou eu fazê-los novamente e perder-me novamente e ouvir da minha própria consciência "quanta-falta-de-habilidade" porque já não é inocência. Depois do erro não há quem segure a minha mão, mas eu mereço. Como posso receber abraços se julgo, aponto, murmuro, num crescente de ingratidão. Eu mereço minha mão vazia, meus braços vazios e a solidão de apenas olhar para o obstáculo. Sou realmente cruel nas palavras, na imposição das posições, no olhar que não perdoa. Sou uma garota malvada, é justificável esse abandono.