segunda-feira, 18 de abril de 2011

"Louco é quem me diz"

Às vezes necessito que permitam que eu esteja infeliz. É como se fosse um respirar para o dia seguinte, para aguentar a próxima queda, o mal vindouro do próximo nascer do sol.
Permitam-me ser fraca por alguns instantes (mesmo que por longos instantes) e parem de pensar disparates e fazer exigências quanto ao que dizem meus olhos. Essa lágrima que inflama, mas não rola é a ausência do essencial, são danos irreparáveis causados por lembranças infantis que não deveriam ter sido vividas. Relações primitivas de uma alma rudimentar e estagnada.
O passado é imutável e as dores devem ter fim? E que dever a vida tinha ao me ofertar horrores enquanto menininha? Se o passado é imutável, meu coração não cresceu, engessou dolorido e amedrontado.
E devo ao tempo superação? Afinal, quanto tempo o tempo já fez? Certamente os bons já teriam superado. Mas que ação me fez o tempo, se apenas refez pensamentos e atos de minhas mãos reféns de segredos que grito ao vento. Segredos de uma dor perdida nesse tempo que não ouve (não houve ninguém capaz de ouvir).
Preciso doar ao mundo um pouco mais que esse sorriso manco? O mundo não notou meus olhos inchados, que eram aquilo então? Uma infecção permanente que me trazia um sono profundo e me arremessava ao chão do quarto? Aliás, o quarto era meu mundo.
O passado se foi com o tempo e o mundo continuou a girar numa velocidade que posso sentir, talvez porque o coração tenha continuado a bater um tanto desacelerado. E nesse descompasso, segredos guardados foram escoando por brechas que não sei onde estão... E os olhos? Por Deus, vez por outra, devem chorar, ainda que eu tenha tido forças de levantar do chão e arrombar a porta do quarto planeta.
E agora, querem dizer a mim como devo conduzir meus passos e o que devo sentir. Meus deveres, meus deveres, meus deveres. Saibam que não por obrigatoriedade, quero ser feliz, e tenho sido, mas com a mais pura honestidade sou feliz quando é possível sê-lo, como sei e à medida que aprendendo.
Não quero piedade, consternação, comoção e estou cheia de tanta gente disposta a restaurar meu sorriso. Gente que, é claro, teria sido, e é mais forte do que eu e não há incomodo nisso, na força de outrem, por que haveria? Mas que meçam as palavras caso me vejam chorando, ou então calem a boca. Nenhum de vocês segurou a minha mão quando meus pezinhos equilibravam-se no sétimo andar da janela rudimentar daquele escritório, enquanto eu ouvia apenas uma canção no último volume “mas louco é quem me diz, e não é feliz, não é feliz”.

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