Disseram-me que sou sensual sem ser vulgar e que tenho um olhar cativante. Acredito nisso tudo, e que esse tudo acontece com a maior naturalidade. Mas sou tímida, a ponto de às vezes não conseguir olhar mais de três ou quatro segundos fixamente nos seus olhos. A não ser que você seja uma criança, ou a não ser que seus olhos me fitem. No caso de não ser criança, você inteiro deve me fitar para que eu o olhe, e será inesquecivelmente encantador para mim.
Sou uma garota de poucos sorrisos, mas que gosta de sorrir. Gosto de quem me faz sorrir e meus sorrisos serão sempre, sempre, sempre sinceros. Acho que fujo da minha própria alegria porque não sei onde a encontro. E tenho medo de encontrá-la em lugares obscuros, secretos, proibidos, onde por vezes já encontrei. Então fico pescando a alegria alheia. Não que as queria para mim, apenas para senti-las um pouco.
Sou contida, introspectiva e poética até em conversas informais. Amo conversar e se estiver só, sou capaz de encontrar pessoas para qualquer assunto e achá-las interessante, desde um jardineiro até um físico-quântico - e essas situações não são hipotéticas. Nunca me sinto deslocada, alguém sempre tem algo a ensinar e eu tenho sede de aprender. Não me importo muito com lugares. Claro que gosto de belos lugares, dos mais falados e fotografados, em fim, mas prefiro o ar puro, o céu estrelado, os cheiros, os sabores, o toque, as cores, as lembranças doces.
Qualquer um me faz chorar de emoção. Sou extremamente sensível e poucos entendem tanta sensibilidade e talvez nem tenham mesmo que entender. Escondo-me muitas vezes para chorar, em outras, não é possível, então paro choro ali mesmo. Acho que chorar deveria ser natural como sorrir. Ninguém olha para você se você sorri, mas se espanta quando chora.
Sou detalhista em palavras. Percebo todas as palavras quando direcionadas a mim e as guardo no coração. Eu deveria andar com uma placa dizendo: cuidado com o que me diz. Muitas vezes transformo pessoas, sutilmente, em textos e acho que as eternizo. Muitas vezes a transformo em emoção e nem queira saber o que acontece. Muitas vezes acredito nas palavras impensadas e aleatórias que me dizem e como me firo com isso.
Ao mesmo tempo, o mundo distrai-me. Poucas coisas realmente prendem-me, amarram-me, surpreendem meus olhos e ficam na minha memória. Talvez por isso eu goste da Arte, porque para mim ela é o mundo transformado, nem belo, nem feio, mas feito pra ser visto de forma incômoda.
Gosto de ler e escrevo compulsivamente, escrevo mentalmente, escrevo com lápis, caneta, em cadernos e guardanapos. Se minha mente registrasse meus textos o mundo leria coisas tão belas. Mas escrevo mesmo é para mim, para colocar para fora coisas que ninguém jamais escutaria, entenderia, ou mesmo suportaria.
Sou musical, mas ultimamente não tenho cantado, abandonei o violão, vendi o violino. Estou desaprendendo a espantar meus males. Preciso voltar a cantar.
O amor para mim é incompreensivo, não aprendi muito sobre ele desde garotinha. Sou péssima em amar, desculpem-me todos. Mas quero aprender, e às vezes quero ridiculamente aprender sozinha. Pensando bem, não é tão ridículo, porque posso aprender a amar-me, o que é difícil, porque sou todas essas coisas e uma porção de outras espantosas, monstruosas, não tão belas, mas que não me envergonho de contar.
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