domingo, 8 de maio de 2011

Onde você estava?

Onde ela estava? - fizeram a pergunta. Onde estava sua mãe? – tornaram a perguntar. A princípio doeu só de leve porque lembro de sua presença. Mas, depois de algum tempo perguntei chorando “onde você estava?” Sei que esteve em lugares ocultos, eu não a via enquanto me observava. Esteve também enquanto eu via, quando eu falava, quando não me escondia. Como somos parecidas... Mas, ainda assim, quando no esconderijo, por que não me procurou, onde você estava? Sei que me carregou nos braços, enxugou minhas lágrimas com aquelas mãos do tamanho do meu rosto, penteou meus cabelos tentando deixá-los em ordem, deu-me todos os xaropes necessários. E fica a dúvida de onde estava você enquanto meu coração se partia. Sei que esteve no quarto ao lado, e penso que vez por outra olhou pela brecha da porta. Mas, onde você estava? Que espécie de lentes eram aquelas que você usou e por isso não me viu tão bem? E por que as deixou num lugar tão baixo, ao alcance das crianças, onde eu as pudesse encontrar e usá-las, imitando sua atitude adulta. Passei a ver com seus olhos. E já não vi você nem mais nada. E não sabia mais onde eu estava. Não sei onde você estava, apenas sinto uma falta tão poderosa de anos a fio que ainda me fazem chorar, mesmo sabendo hoje onde encontrar você. Só não sei procurar, buscar, pedir que fique, tudo porque não vi onde você estava.
Pare com isso de culpa porque eu já não a busco. Sou consciente das limitações e acabei descobrindo que você estava em si, no meio de suas muitas dores. Como somos parecidas... E vejo-me agora, culpando-me, chorando, por saber onde você está e não saber amparar quando posso ou quando devo, ou simplesmente não querer ao menos olhar, perdida num não querer de raiva, solidão e paralisia inútil. Eu amo você e a cravei com pregos rústicos em meu peito consertado por minhas próprias mãos, jamais a perderei. Queria que você tivesse feito o conserto por mim, neste peito de costuras sem arremates, de remendos, materiais diversos e substâncias que estancam o sangue. Penso que seriam menos marcas ou cicatrizes, menos danos depois de tantas perdas. Mas talvez se o fizesse, esquecesse de colocar a si mesma no meu coração. Talvez seja essa a razão de eu ter sofrido tanto, ter você dentro de mim. Onde você estava, não importa? Que vou procurar no passado? Mesmo que já não esteja, estará pregada em mim, é o que faz o desespero, mais do que o amor. Eu a amo desesperadamente.

Um comentário:

  1. By Wikipédia>>>> "Prefixos de negação (ou de ausência) são prefixos gramaticais que em geral negam o sentido original de uma palavra. Em alguns casos, o prefixo de negação se opõe ao significado original da palavra (neste caso, funciona como um prefixo de oposição).

    Algumas palavras não existem sem o prefixo de negação. É o caso de intocável.

    Alguns prefixos de negação: in, im, i, des...""

    Minha parte no comentário... rsrsrsrs

    Des - esperada, não esperada...

    faz disso um des - esperarei - Não vou mais esperar, serei feliz agora...

    Beijos

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