segunda-feira, 4 de abril de 2011

Quando menos é mais

Queria ser menos.
Dedinho de licor de menta, e não dose dupla de whisky cowboy.
Bombom de chocolate meio amargo, recheado com nozes, e não lata de leite condensado.
Uma onda lambendo a areia da praia e apenas umedecendo os pés de quem passa. Mas sou água nervosa que só surfista, explodindo adrenalina, enfrenta.
Queria ser Água de Colônia, e não Patchouly.
Raspa de maça, e não Jaca.
Música em Dó maior, e não em Si bemol.
Canção de ninar, e não a Bachiana.
Um tom a menos. Menos brilho. Menos contraste.
Pra gostar, e não morrer de amores.
Pra ser apreciada, e não engolida.
Não pense que é só você que sofre com esse meu muito.
Enquanto pratico alpinismo no Evereste, tem gente contente por subir de elevador.
Quero experienciar esse prazer.
Mas, se sou livro, sou Homero.
Se sou tinta, vermelho.
Se sou disco, ópera.
Se dinossauro, velociraptor.
Se sou filme, um drama verídico.
Se sou brinquedo, quebra-cabeça de cinco mil peças.
Se sou lei, o Código Penal.
Se sou pena, a de morte.
Se sou morte, a trágica.
Entende que quero ser tatuagem de henna?
Caderno de entretenimento?
Gordura vegetal.
Frutose.
Flerte.
Romance água com açúcar e final feliz.
E fico na tentativa da desconstrução, com o esforço de um guindaste, carregando peso de
halterofilista, pra tentar interromper o muito.
E demoro pra perceber que muito com muito é mais.
Porque se sou bicho, sou ser humano.
Se ser humano, exatamente quem tenho sido.

2 comentários: