quarta-feira, 16 de março de 2011

Provas de um não amor

Você não se importa. Não se importa com o abandono na sala de estar (ou qualquer outro lugar) e desculpa-se porque estou confortável. Cinco, seis, dez horas esperando, tanto faz. Mas você não sabe que bancos, estofados, almofadas, cama, o próprio sono, nada disso conforta o coração. Mas você não se importa porque simplesmente não me abandonou na rua, na chuva, perdida. Eu preferia estar na chuva, na rua e perdida, porque isso sim seria o meu conforto, eu me encontraria, mas você não se importa.
Você não se importa com o abandono na mesma sala, com a ausência de si mesmo, e diz que estar ali é o que importa, em outras palavras, você é o que importa.
Você não se importa se é com você que me importo, se me desdobro, se dou piruetas, ando na corda banda e enfrento os leões. Você não se importa se quero cuspir fogo pela boca, porque meu dever de mulher é ser muda.
Você não se importa se fiquei bela, se existem olhares me olhando. Não percebe que fiquei bela para você porque pensa que me possui. Nem percebe que fiquei bela.
Você não se importa se estou feliz com o espelho e me pede mudanças aqui e ali, para trocar a peruca de menina de cera, amenizar a maquiagem, mudar a cor da roupa. Se sou o que sou, você não se importa.
Você não se importa com minha angústia, porque para você é injustificável. Não se importa se quero falar, se preciso falar. Você não se importa se não me entende e o único esforço que faz é que para que eu seja sua bonequinha de luxo, ao seu modo, sorridente.
Você não se importa se passo as noites chorando, contanto que não veja as lágrimas. Não se importa que eu sofra, contanto que não veja o semblante. Não se importa que me fira, contanto que não veja o corte.
Você não se importa se não me ver, nem com minhas necessidades. Não se importa se me comprometo e me quer livre quando me quer.
E é de tanto não se importar que eu olho assim para você, como se a falta de importância nem tivesse importância.

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