domingo, 20 de março de 2011

Nova carta ao Senhor t (para saber quem sou)

Novamente Marcele misteriosa porque quero sê-lo, porque gosto de sê-lo, porque sei que assim instigo, provoco, choco – por que não dizer? Amo meu salto e minhas unhas vermelhas e minhas transparências e decotes quase não consideráveis e o que todos querem saber o que há por trás disso. Há o meu riso solto e aberto para todos, mas não a revelação do meu mistério.
Olho meus olhos no espelho, minha boca no espelho, meus cabelos e parece que cada um desses pertence a alguém dentro de mim que é maravilhoso em si mesmo.
Amo minhas cores e os sabores que tenho certeza que tenho. Adoro doces e sei da minha sensualidade ao chupar uma bala, um pirolito, um sorvete e gosto de fazê-lo em frente de todos, como uma criança faria, deliciando a inocência – mas todos vêem que não sou criança.
Gosto de cruzar as pernas de cor dourada e jogar a cabeça para traz com uma rebeldia controlada, para demonstrar uma alegria que encanta, uma felicidade que pertence a mim e que qualquer um gostaria de roubar. Que delícia uma alegria roubada!
Perguntam meu nome, eu repondo e frequentemente e continuo a conversa até chegar ao ponto de chegar ao ponto final. Gosto da raiva masculina causada pela certeza interna de que eles tudo possuem.
Converso com o mundo e agrada-me o colorido da vida. Já prestou atenção que tudo tem cores? Amo o sol ardendo na pele enquanto os outros procuram a sombra e amo tomar chuva e sentir a roupa grudada no corpo e os cabelos encharcados e olhar para cima enquanto todos escondem a cabeça dos pingos.
Gosto de conquistar seja lá o que for, não pela posse, mas pelo prazer da conquista. Enjoo rápido daquilo que tenho e quero sempre mais, ainda que seja o mesmo.
Se pudesse dançaria todos os dias, badalava chamando atenção até quando todos dissessem “como ela é linda!”.
Sento com pessoas diferentes e tenho conversas incrivelmente inteligentes que há quem nem aguente, mas há quem se encante e é com esses que o resto da noite vale a pena (que o resto da vida valeria).
Tenho sede do mundo, tenho sede da vida e sou incontrolável, impulsiva, capaz dos atos mais inesperados (que me causam arrependimento ou não). Essa falta de controle talvez seja para colocar para fora aquilo que ninguém jamais escutaria, entenderia ou mesmo suportaria.
Aliás, alguém suportaria a Marcele assim? Acho que querem apenas diversão, e amigo não terão. A minha diversão é diferente, é meu mistério.

Essa Marcele também não sabe amar, mas apaixona-se constantemente e como sofre e como erra nas paixões. Essa Marcele deseja ardentemente, ela é o próprio Desejo. Ela é viva, ela é vida, mas corta-se em pensamentos ao fim do dia quando a explosão se acaba porque não há explosão diária, porque o coração não aguenta. Nem o dela, nem o de ninguém.

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