quarta-feira, 6 de abril de 2011

Nova canção

Não cantarei mais o Retrato em Branco e Preto, a bossa-fossa, a canção solidão narrativa do caminho dos passos descalços na estrada rachada pela aridez do tempo. Chove, e não é tempestade. Chove o que a vida precisa para não passar seca. Caem os pingos necessários. Impossível continuar pintando com preto carvão, tentativas foscas de sombra e sombra e sombra. Essa não é mais a paisagem natural. Há a luz que invade, alastra, toma posse do quadro quase negro. Como a trepadeira que revela a força da vida enquanto cresce e esconde o muro cinza. Ela traz cores, um verde que grita, um tom diferente, que a princípio soa estranho, porque é som de alegria. A canção é outra, outra nova que não é bossa. O retrato é em cores. O tempo é limpo. O céu é aberto. O coração é novo. Nenhum dos mesmos tristes velhos fatos configura-se realidade. Desfiz-me da coleção de fotos em tons de cinza. O medo imenso tenta ainda sufocar minha garganta. O medo grita o abandono passado. O medo implora para que eu paralise. O medo, o medo, o medo, ora medo. O medo não me impedirá, já não me impede. Pobre Drummond, para quem não pude contar a verdade do segredo, aquele que todos pensam saber, aquele da vida que não presta, pobre Drummond.  Mas não é o que não presta o grande problema do mundo. A gente é que transforma a dor em epigrama, o epigrama em epitáfio histérico que propaga a tristeza feito epidemia, como ele disse. Mas agora sou eu quem digo que esse é o segredo torto. O medo vai duvidando enquanto continuo andando e cantarolando baixinho outra canção. A estrada eu também nem conheço, mas prossigo. Vou escrever tratados de risos não obrigatórios, mas perpétuos por espontaneidade. Vou colecionar é a prosa boa de amores possíveis, a paisagem colorida e mutável da janela para o quintal da minha alma. Porque meu coração cansou da vadiagem da tristeza. Ele agora trabalha, responsavelmente, perseguindo alegrias – ainda - desconhecidas. E eu estou inteiramente pronta pra saltar com todas elas.

2 comentários:

  1. Escrever tratados de risos não obrigatórios, mas perpétuos por espontaneidade... Aí é que mora a distração da vida... aí é que mora o alívio dos sofrimentos, aí é que está o que deixa a rotina mais suportável, o que dá um colorido ao cotidiano...

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  2. Vamos tentando aliviar... Obrigada pela visita

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