Elaborar frustrações e ressignificar a vida para não mais sobreviver. Para viver.
terça-feira, 21 de junho de 2011
Entre o medo e o desejo
Eu tenho medo do escuro, mas também não quero cortinas abertas porque a luz pelas frestas parece ferir meus olhos. Mas saio pela noite, percorro madrugadas desejando holofotes e letras em neon e esperando o sol nascer. E quando sinto o primeiro calor da estrela próxima, dou-lhe as costas para esconder novamente o rosto, o corpo, a alma. Eu sei que a luz não me cega, mas é difícil habituar-me a ela. Tem que ser devagar... Um pouquinho num dia, outro tanto no outro, abrindo um olho de cada vez, espremendo as pálpebras como quem sente dor. Mas tenho saído para assistir todos os pores de sol e ganho de presente nuances amarelas, laranjas, vermelhas. Cores alegres que me alegram. Cores que me sorriem. E ainda tenho medo. Talvez seja porque vivi num tempo nublado e cinza, sem a possibilidade de escolher os sabores da luz, que são tantos. Bebi uma vida de escuro viciante, mas cada nascer do sol me desintoxica um pouco. A felicidade assusta e chama como se fosse chama. E eu quero esse calor. Já não ouço quem diga que o fogo queima. Quando definitivamente abrir os olhos, mergulho no fogo... Onde quer que ele esteja...
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Parecia-me uma vida nas sobras, mas de repente, pareceu-me um parto.
ResponderExcluirLembro-me de uma parte do texto de Lacan "complexos familiares" onde ele fala sobre o nascimento:
A nudez do tegumento, a dor da primeira respiração, a luz ferindo os olhos... O sentimento de total impotência, que depois será revivido frente ao desamparo angustiante de alguns momentos da vida.
Beijos querida...
Puxa, não tinha visto por essa ótica, mas acho que é isso: um parto, um renascimento no encontro consigo mesmo, a descoberta do mundo novo...
ResponderExcluirmundo novo... é tudo o que o bebê experimenta... :D
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