sábado, 5 de março de 2011

Não quero me habituar

Como é que posso esquecer? Eu sei que passou, mas não está dando certo essa história de apagar lembranças. Eu sei que não sou mais aquela garotinha que na verdade eu nem sei quem foi. Mas como é que vou saber quem sou se não lembrar dela?
Não sofrer por ela, tudo bem. Vamos sepultá-la, cremá-la e jogar as cinzas no mar. Eu nem quero as cinzas do sofrimento, mas ela faz parte de algo que me entristece e que até me alegra. Preciso entendê-la porque a vida me confunde, não pelo que foi, estou falando do presente, deste concreto inexistente que sou eu. Porque às vezes penso que nem sou, e confundo-me perdida em pensamentos de alguma coisa perdida. No tempo? No espaço? Bem aqui na minha frente? Bem aqui dentro de mim?
Que novos hábitos preciso adquirir, afinal? Parar de pensar? Eu já não brinco de bonecas e pago as minhas contas. Seria o hábito de não sonhar? Eu sonho como uma garotinha? Como posso saber se sonho como uma garotinha se não lembro dos meus sonhos enterrados de garotinha. Mas não quero os sonhos antigos, quero estes de agora. Permitam-me sonhar sem dizer que exagero nos desejos. Por que não posso querer muito? Querer sempre muito. Querer todos os desejos. Acho as amenidades repulsivas. Não quero me habituar a amenidades.

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