Não foi com um beijo demorado na testa,
ou abraço e não foi a lembrança distante do teu colo gentil e maternal. Não foi
com carinho. Não foi com cuidado. Não foi pela delicadeza das palavras de
conversas que não tivemos e que guardo no peito até hoje. Não foi com um bonito
poema, ou uma linda declaração. Não foi quando ganhei o presente inesquecível e
nem quando me chamava de presente, porque Cavalos de Troia também o são. Não
foi quando deixei de ouvir algo que talvez ouviria, ou talvez não, ou sei lá o
que dentro do seu olhar enigmático para mim tão cortante que me fazia fechar os
olhos de medo. Não foi pela ternura ausente no olhar ausente. Não foi com 5 nem
com 15 e muito menos com 20. Não foi no pior dia da minha vida. Não foi
enquanto me ausentei. Não foi por promessa alguma. Foi depois de um tempo tão
longo sem beijo e sem colo. Depois de lembranças da sua aspereza tão dolorida
em mim. Depois de olhares acusadores, inquisidores, perturbadores que talvez
fossem apenas tristeza. Mas apenas talvez. Foram longos anos de uma dúvida que
quase me levou a morte e que me salvou a vida. Foi exatamente e somente quando
você me disse: “Eu vou te buscar”. Eu, 30 anos esperando uma demonstração clara
da sua intenção real, descobri, tomei consciência de que você me amava
verdadeiramente.
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