“Conhecereis
a verdade
E a
verdade vos libertará”
Bíblia
Sagrada
Eu pensei que nunca mais olharia nos olhos de quem quer que fosse, pensei
não ter a altura da dignidade de se olhar nos olhos porque os meus estavam
banhados de vergonha. E por isso, não tive mais coragem de levantar os olhos,
de levantar da cama, de sair de casa, de dar bom dia ao desconhecido, de dar um
abraço, de receber carinho. Pensei que não receberia.
Pensei que ignoraria o sol eternamente, e a chuva, e o a azul e a pipa
colorida longe, lembrança da infância singela. Pensei que fecharia o coração
para sempre. Vez por outra pedia intimamente a minha boneca Maria, boneca de
pano, companheira. Desejei tanto uma boneca...
Pensei que não coloriria mais, nem veria velhos ou novos amigos ou
brincaria de coisa alguma e que o perdão seria um brilho
distante. Nada de sorrisos.
Pensei que nunca mais falaria de minhas dores reais, que não mostraria
minhas feridas e que por isso deveria ferir-me mais e mais e mais. Ninguém
seria capaz de ouvir, ninguém poderia ouvir, ninguém estaria disposto a mim.
Pensei que não seria bonita, ou apreciada. Pensei que seria incapaz de
dançar ou fazer par. E que seria desumano se eu cantasse ou demonstrasse
qualquer traço de felicidade.
Quase enlouquecendo de tanto pensar em tanto pesar, sem olhar nos olhos
de ninguém, sem levantar da cama, muito menos dar bons dias ou abraços, ou ver
o sol ou a chuva, ou as cores ou o perdão, ou a boneca. Soterrada em dores,
rancores e ruminações, sem dança, sem par, sem beleza.
Até lembrar... até resgatar a força necessária de saber o significado
verdadeiro da dignidade e humanidade. O restante veio aos poucos, enquanto
minha mente confusa e forte pensava em morte, arranquei a vida de mim. E
vislumbrei que poderia ter e fazer o que amo...
O nunca mais dilui-se com o sempre... sempre há uma esperança. O mais
difícil foi perdoar e não, isto não me libertou, apenas deixou-me mais leve. A
verdade, esta sim me deu asas.
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