segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Não foge menina...

"Deixa a vida te querer mais do que você a quer, meio que com certa indiferença na cara, mas com o coração apaixonadíssimo pela liberdade que ela dá por desdenhar dela." (Marco C. Leite)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Insolucionável

Pois não há solução, talvez por nunca ter sentido saciedade no ódio, ou no amor até, quando houve. Nem em qualquer outro sentimento pifiamente sólido ou ridiculamente potente. Nada tem sido capaz de me arrebatar. Então suporto cada instante de amenidades indefinidas, cultivando um estado de graça que lapida minha parte mais conhecida e desprezada. Mas não quero desatar minhas amarras. Deixo-me estar presa às desilusões. Nem é verdade que a angústia me personifica, assim como não existe a anestesia sentimental que acabo de injetar para entorpecer o ânimo. Quero mesmo ser esta questão insolucionável apenas pela emoção de sê-lo, e para tanto fico tentando trazer o velho alívio das dores que há muito deixaram de ser dores. Fico absorvendo perigosamente as muitas nuances de angústias empoeiradas, apenas porque quero furtar um sentimento que não é meu. E quero ser condenada para, dai sim, ter o prazer de fugir de algo que possa realmente me prender.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Infeliz constatação


E por que me incomodava se era tão meu? O fora do lugar da sala de estar, do quarto, da cama e do coração. A música, a luz da TV na madrugada, os livros, os pratos sujos e o resto que nem era excesso. E agora faço tão igual. Tão pior... E nem quero você de volta, quero apenas a sensação de controle e o meu mundinho medíocre na palma das minhas mãos.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Das mentiras que eu gostaria


Não quero ser honesta. Não quero ser honesta comigo mesma. Quero a desonestidade para o meu alívio e que isso não seja uma escolha entre o bem e o mal. Por que não posso ser desonesta? Por que esse desejo não pode vencer? Só porque honestidade não mata? Mas fere. Está ferindo. Permita-me ser desonesta porque minha consciência não aguenta desonestidade sem permissão. Até minha desonestidade é fajuta.

Não contei


E se você souber que eu ainda choro
e que o riso é tão novo que estou aprendendo a sorri-lo
E se souber das bobagens que eu digo,
quase nunca em forma de canção
E se souber que não sou tão decidida
e se souber que não boto fé na vida
E se souber que eu não danço há mais de um mês
E se souber que eu não tenho dezesseis
E se souber que eu nem pulo Carnaval
e não levanto a bandeira da paz mundial
E que nem tenho causas pra lutar
além do meu egoísmo barato e banal.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Inquietude

Um desejo estranho de desejar pulsão. Não gosto deste coração aquietado e manso. Preciso que ele vibre, que ele estale, que ele pare e que volte e sempre de repente.
Se bom ou ruim é desnecessário saber quando só se quer a sensação. Desnecessária a permissão de quem quer que seja porque quero invadir. Vou invadir.
Preciso apenas que você olhe nos meus olhos e não aguente. E esta é minha intenção clara e explicita. Eu não vou até o final porque não haverá, e gosto do quase enlouquecedor que nunca finaliza.
Não espero que você goste, apenas que olhe nos meus olhos e não suporte.
Desejo pulsão pra causar pulsão. Afaste-me do desepero da sua reação. Não me interessa a reação. Quero derrubar o edifício e fechar os olhos para a poeira.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Tédio

Desinteressante.
Quase inteira...
Quase vida.
Quase...
Quase brinquei.
Quase chorei.
Quase adolesci.
Quase dancei.
Quase beijei.
Quase gostei.
Quase deixei gostar.
Quase foi bom.
Quase mudei.
Quase cresci.
Quase esqueci.
Quase parti.
Quase voltei.
Quase fiquei.
Quase linda.
Quase amiga.
Quase amante.
Quase tudo e quase nada.
Nunca e sempre. 
Circunstancialmente igual.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sonho

Ainda estou esperando aquele trem que passou no meio do meu quarto arrebentando as paredes do meu coração. Eu embarquei e pude ser tantas naquele trem, carregando minhas extravagâncias sem medo. O espelho revelava amor, desprezo, maldade, afeto, carinho, ira e eu podia tudo. Lembro-me do impacto que causei e penso no por que de ter causado. Acho que estou enxergando através de delírios que já não ocultam meus desejos mais explícitos. Essa excitação toda, esse peito estalando, a pupila dilatada... Que droga é essa afinal? Estou viciada no risco, obcecada pelo perigo e hoje isso me trouxe angústia. Nada me satisfaz. Esse querer inconstante e solitário... Por que o trem não passa novamente? Onde estariam aqueles trilhos, marcas de noite após noite de pura paixão vivida entre as quatro paredes do meu quarto? Tudo some tão de repente, assim como a minha segurança na emoção. Preciso meditar na beirada de um precipício para ver se o azul  do céu me hipnotiza mais do que o desejo da queda.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A vida bem me que bem

Que alegria é essa que encanta? Por ela ganho acenos, abraços, beijos e outras gratificações. Tem que se ser alegre. E eu nem quero, mas não repudio, apenas recebo uma coisa que vem quando eu respiro e traz satisfação. Não é complemento, nem fonte. É um algo quase concreto que instala no corpo sintomas de um vigor latente, deixando os  membros ágeis e os olhos muito abertos. Minha pele permeável absorve o todo e minha língua absorve o pó que sobra e tudo o que se é precisamente apaixonante. Eu, precisamente apaixonante, mas não apaixonada porque não sou eu que estou vidrada na vida, mas a vida é que está vidrada em mim. Assim sem erro e sem modéstia, a vida me agarrou pela cintura e quer dançar comigo, quer me cantar, e fica assim gritando meu nome. Se você não ouviu é porque não foi contaminado por esse vírus alegria.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Espera

E de repente a vida surpreende trazendo inspiração em tempo de alegria. Eu esperei por isso. Esperei com certa angústia, mas com riso. Um riso desesperado de quem mal sabia se devia esperar, porque já recebi deste gozo outras vezes e ele foi-se tão logo... Mas voltou. D-e-m-o-r-a-d-a-m-e-n-t-e.
E esperei tanto porque não se exercita inspiração, alegria ou gozo... Nisso perde-se a leveza. E inspiração sem leveza é pensamento. Alegria sem leveza é festividade. Gozo sem leveza é automação.
E enquanto essa felicidade penetra os poros como o sol dourando a pele, gozo os bons ventos que a inspiração me traz em meio a um sentimento de estabilidade rara. Um instável sentimento que faz formigar o coração, borbulhar a mente e transbordar  alma de um sei lá o quê que me faz bem. Inspiração, alegria e gozo tiveram a merecida espera.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Não sejas o de hoje (Cecília Meireles)

Não sejas o de hoje.

Não suspires por ontens...

Não queiras ser o de amanhã.

Faze-te sem limites no tempo.

Vê a tua vida em todas as origens.

Em todas as existências.

Em todas as mortes.

E sabe que serás assim para sempre.

Não queiras marcar a tua passagem.

Ela prossegue.

É a passagem que se continua.

É a tua eternidade...

É a eternidade...

És tu.